Imagine
a seguinte situação: depois de algum tempo de matrimônio um casal, que
já tem um filho, se separa. Um dos ex-conjugês, o pai ou a mãe, não
aceitando bem a situação, passa a manipular e usar o filho para atacar o
ex-companheiro ou ex-companheira, fazendo com que a criança perca o
respeito ou a confiança naquele ente. A
situação, por mais hipotética ou fantasiosa que possa parecer, é algo
que acontece muito e é chamada juridicamente de alienação parental.
A
advogada carioca Janaína Gentili, de 45 anos, especialista em Direito
Civil e de Família e professora universitária, explica que essa prática
cultural ocorre mais com as mulheres. “Elas são as maiores alienadoras.
Em geral, quando acontece a separação, é o homem que sai de casa e a
mulher quem fica com os filhos. Alguns comportamentos são comuns como
impedimento de visitas, omissão de fatos importantes da vida da criança,
criação de histórias pejorativas sobre o alienado, mensagens
contraditórias que deixam os filhos receosos na presença do pai e
ameaças de abandono caso a criança queira ter contato com ele”, comenta.
A verdadeira vítima
Mas,
de acordo com a psicóloga Paula Emerick, de 41 anos, especialista em
Terapia de Família, quando o casal se separa e ocorre a alienação
parental, acaba se estabelecendo uma relação de guerra entre os dois. O
maior prejudicado, porém, não é nenhum deles. “Por não conseguir lidar
com essa situação, a criança é a maior vítima desse conflito, pois pode
apresentar a chamada Síndrome da Alienação Parental (SAP). Ela pode ter
distúrbios psicológicos, como depressão, ansiedade, timidez excessiva,
problemas de atenção e concentração e até o envolvimento com drogas
quando chega à adolescência. Conheço casos em que as crianças acabam
mudando de gênero para suprir a falta daquele pai ou daquela mãe do qual
foram afastadas em virtude da alienação parental”, conta.
Consequências
Dificilmente
um pai ou uma mãe admite que está praticando a alienação parental.
“Quando se identifica a prática, num primeiro momento, o alienador nega
as ações e se defende, mas, quando a criança é apresentada com algum
tipo de distúrbio, depois de alguma conversa, se percebe o que ela está
passando. Por isso, costumamos ouvir as partes da família que estejam
mais comprometidas com a saúde emocional da criança para tentar resolver
o problema: pais, tios avós e a própria criança ou adolescente.
Geralmente, a ficha da mãe cai e ela perde perdão”, explica.
Mas,
nos casos em que isso não acontece, outras medidas precisam ser
tomadas: “crianças que passaram a primeira infância absorvendo toda essa
carga depositada pelos pais, na adolescência podem ter sérias
dificuldades. Dependendo do nível emocional delas, se não conseguem se
despojar, se abrir e falar sobre esses sintomas fisiológicos ou
químicos, a solução é encaminhá-las para um especialista infantil”,
orienta.
Possibilidades e responsabilidades
Muitas
vezes, paralelo ao cuidado psicológico a que as crianças podem ser
submetidas, os casos acabam sendo encaminhados também para a área do
direito. “Eu sempre costumo esgotar todas as possibilidades de conversa
antes de fazer qualquer ação. Muitas vezes encaminho os casais ao
Ministério Público onde um funcionário procura conciliá-los. Também há
programas públicos em que os casais podem participar, nunca em uma mesma
roda de conversa, ouvindo outras pessoas sobre o mesmo problema até
para que percebam que pode haver uma solução para o caso deles. Os pais,
mesmo separados, devem compreender a sua grande parcela de importância e
responsabilidade na criação dos filhos”, afirma a advogada Janaína.
Para
ela, muitos desses problemas poderiam ser evitados se o casal, na época
em que planeja casar, conversasse a respeito da relação que quer ter.
“Os casais sempre se organizam para o casamento, para as festividades,
mas não sentam para projetar essa relação e pensar qual será a divisão
das tarefas domésticas e sobretudo qual o caminho na educação dos
filhos, pois cada um tem talentos diferentes para cuidar da criança nas
coisas mais simples, como escovar os dentes, levá-los para passear, de
forma que aconteça uma divisão equilibrada e igualitária das funções”,
conclui.
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